Um sonho
Certa noite, dentre as mais escuras
Eu passeava pelas trevas, pelas ruas
Qual não foi meu espanto, aquelas alturas
Dentre as sombras pairavam estranhas figuras...
Naquelas melancólicas e avançadas horas
Iam as silhuetas, soturnas, silenciosas
E que terror me causavam sua vil aparência!
Mas pareciam negligenciar a minha presença
Minha curiosidade suplantou o medo
E resolvi seguir a horda, em segredo
O murmúrio de uma prece o vento soprava
Enquanto na escuridão, eu espreitava
Dentre as veredas da antiga cidade
Cada passo aguçava minha curiosidade
Haverá ainda mistérios na enfadonha existência?
Serão as entidades ecos da minha consciência?
Guiaram-me os soturnos vultos,
Para a beira de um abismo escuro...
Que haverá nestes rincões vazios?
Horda de anjos, poetas esquecidos?
Eis que, como por toque de estranho encanto
Vi-me sozinho, no limiar do abismo - o contemplando
O negror da noite adentrou minha alma
Nada havia ali, musicas, rostos, sequer uma fala...
Prostrei-me ante a melancolia desta vil existência
Será este abismo um portal para a demência..?
Meus sonhos arcanos não guardam mais qualquer sanidade
Como um estranho, porém, oculto-me da realidade...
Quando olhei para o abismo, contemplei a verdade, enfim
Eis que suas trevas eram um espelho, que refletiam a mim
E soube - meus sonhos recônditos de poeta das noites,
Eram como a brisa que acalentava as almas das flores...
Daquela profundeza de mistérios,
Passaram a bailar luzes, brilhos etéreos!
Que ascenderam como fagulhas de chamas - seres alados
Incandescentes fantasmas, que me guiaram àquela beirado
E assim sussurrou-me uma daquelas inefáveis entidades:
"És o poeta da lua, navegas na falua das madrugadas silenciosas... o conhecemos!
Este abismo, aos teus pés, é o mar de sua esperança - onde nos escondemos
Bardo do horizonte, a prece de teus versos foi ouvida
O mundo real será um devaneio e toda a dor será esquecida
Se em prantos concebestes tantas poesias
No silêncio dos espaços encontrarás a calmaria
Levante-se, alma inquieta
Mistérios o aguardam, nobre poeta!"
Um sonho! Um sonho! Já não sei mais discernir!
Mas o que será realidade no beiral do desconhecido?
***
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