quarta-feira, 15 de julho de 2015

Cronicas da Casa Vazia

O Vulto na Janela (Segunda parte)

De repente, algo chamou minha atenção, a minha frente, a apenas alguns metros de janela. Senti algo estranho novamente. Um calafrio percorreu minhas espinhas enquanto minha intuição acusava uma presença. Esperei meus olhos se habituarem as trevas e então pude delinear um vulto esbranquiçada no gramado, de frente para mim, também me contemplando! Aturdido, senti minhas pernas enfraquecerem, mas logo voltei a mim e gritei, resoluto “Quem é você? O que quer?”. O desconhecido – ou talvez desconhecida? - não respondeu. Com os olhos mais afeitos à escuridão, pude perceber que se tratava uma mulher, vestida de branco, nívea e talvez com os cabelos negros ou acastanhados. Limitou-se a me encarar por mais um momento, para então se afastar, como se houvesse também se assustado. Estava talvez aturdida, louca, perdida. Começou a se afastar, pareceu-me então que fugia de algo e que estava alheia a minha presença. Num ímpeto, pulei a janela, pois não a podia deixar assim, sozinha. Passei a segui-la. Atravessei o gramado e fui atrás da moça de branco.
Chegamos – apenas a uma distância de uns dez passos – à ponte que cortava um pequeno rio, plácido nos tempos de seca mas que naquela noite impelia violentamente suas águas por debaixo da passagem. Esbaforido, notei ainda as batidas do sino do Campanário da Igreja. A mulher, pude ver então, era belíssima, dir-se-ia um anjo perdido na terra. Branca, beirando a palidez doentia, cabelos negros encaracolados e beijados pela brisa. Parecia que uma das ninfas que me inspirava fugira de meus sonhos. Repentinamente, ela então subiu no muro de pedra que guarnecia um dos lados da ponte. Olhou para baixo, como que hipnotizada, a correnteza abaixo precipitando-se contra as rochas do rio. “Não!” Bradei, impelindo-me contra o muro na tentativa de salvá-la. Mas era tarde demais. Ela pulara.
“Não!!!” Gritei. Acordei sobressaltado. O gato, a meus pés, se dispôs a levantar a sua cabeça e me olhar, indiferente, e logo voltou a dormir. Tudo não passara de um sonho. Intenso, mas um sonho. A janela estava fechada, como eu a deixara. O gato dormia. O livro que eu estava lendo, sobre meu peito. Tudo estava em ordem. Levantei-me. A chuva cessara e um belo luar se delineava. Verifiquei que estivera dormindo por apenas uma ho ra. “Mistérios do mundo dos sonhos...”…
Tudo transcorreu normalmente até próximo da meia-noite. Comecei a me sentir inquieto, e quase já havia olvidado do peculiar sonho que eu tivera. A chuva não caia mais. Abri a janela e senti a brisa fria roçando minha pele. O tênue brilho das estrelas e a luz da lua , que parecia digladiar-se com os vapores da noite. Inquietude, excitação, nesses sentimentos resumia-se o estado da minha alma. O gato me olhava.“Louco” parecia querer dizer a mim com seus olhos, tamanha indiferença denotavam. Meu coração acelerou-se quando o sino do campanário deu sua primeira badalada. Eu tinha que me lembrar… terceira badalada, quarta badalada… o sonho… quarta, quinta, sexta,.. a ponte… sétima, oitava, nona badalada… a moça de branco… décima, décima primeira… “Meia Noite!!! A hora em que eu a alcancei na ponte..!”. Impulsivamente, calcei meus tênis e corri em direção à ponte. Tinha que dar tempo..!
A lua parecia iluminar meu caminho. As estrelas me guiavam. Apenas a esperança pareceu me abandonar quando me aproximei da ponte, o som das águas cada vez mais audível. Avistei então a moça de branco. Mas não estava sozinha. Um homem a acoava. Ela estava na mureta da ponte, mas diferente do sonho, o homem estava prestes a atirá-la nas águas tortuosas do rio! Num último vislumbre de forças, investi contra o desconhecido, golpeando-lhe e atirando-lhe da ponte. Pude ver ainda sua silhueta negra revolver-se nas águas violentas do rio.
A moça era ainda mais bela do que no sonho. E seus olhos – pude então contemplá-os, eram verdes, tal qual o que se diz ”esperança”. Além de poder ver renascer uma vida, pude ainda ver nascer o Amor.







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