Crônicas da Casa Vazia
O Infinito e a Solidão
Desci as escadas. Olhava para o chão. Mecanicamente despedi-me de meus colegas no portão de saída do prédio.Segui sozinho, caminhando vagarosamente, dolentemente pelas tranquilas ruas do bairro. Podia escutar o murmurar constante dos carros na movimentada avenida próxima. Mas não me importava. Os ruídos estavam ali como que para não me deixar esquecer do mundo, do fluxo da vida... mas não me importava. Continuava olhando para o chão, acompanhando o movimento cadenciado mas lento das minhas pernas. Meditava sobre o tudo e sobre o nada ao mesmo tempo. O que são o tudo e o nada senão leituras do infinito? Sim, eu estava no infinito. Enquanto as pessoas iam e vinham e eu sentia seus vultos me cercarem, eu estava no infinito.
Uma leve brisa tocou minha face e fez farfalhar as árvores que adornavam a tranquila rua. Despertei de meus devaneios e olhei, finalmente, ao redor. A rua, banhada pela tênue luz dos postes, estava deserta e nada mais se ouvia senão o ruído da viração nas ramagens, sereno, calmo, mil vozes que sussurravam... Que grande paradoxo: Enquanto estavam aqueles seres humanos ali ao meu lado, tocando em mim, esbarrando, falando, minha mente se isolava no espaço da quimera, no infinito do pensamento - tão só quanto eu me via naquele instante, naquela rua deserta. Minha alma talvez quisesse estar sempre só. Sorri. Que singelo e intrigante paradoxo: querer sentir-se sozinho no meio da multidão... Se perceber sozinho quando se está assim realmente. Que espírito mais... Solitário? Que paradoxo!
Subindo a rua vazia de seres-humanos - um cãozinho insistia em me acompanhar - minha face naturalmente se direcionou para algumas parcas estrelas no horizonte. Ou eram luzes de algumas casinhas distantes? Era luz, em todo o caso. A brisa, que soprou as nuvens de sonho da minha consciência se converteu em forte sopro, que rapidamente varreu as brumas do firmamento, revelando o esplendor da noite: a Lua, bela, misteriosa e... solitária? Não, não mais: o cãozinho uivou para ela e eu a admirava.
A solidão se foi com as nuvens. Iluminado pela Lua, peguei o vira-latas. O som dos automóveis na avenida próxima se misturava ao som das folhas agitadas pelas lufadas de vento. Sim, o brilho no horizonte era mesmo estrelas.
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