quarta-feira, 18 de fevereiro de 2015

Uma Estrofe é Um Momento

Cada momento para quem ama 
É a chance de um novo suspiro
Cada beijo acende uma chama 
Cada olhar desperta um Sorriso.
Crônicas da Casa Vazia 

O Infinito e a Solidão

Desci as escadas. Olhava para o chão. Mecanicamente despedi-me de meus colegas no portão de saída do prédio.Segui sozinho, caminhando vagarosamente, dolentemente pelas tranquilas ruas do bairro. Podia escutar o murmurar constante dos carros na movimentada avenida próxima. Mas não me importava. Os ruídos estavam ali como que para não me deixar esquecer do mundo, do fluxo da vida... mas não me importava. Continuava olhando para o chão, acompanhando o movimento cadenciado mas lento das minhas pernas. Meditava sobre o tudo e sobre o nada ao mesmo tempo. O que são o tudo e o nada senão leituras do infinito? Sim, eu estava no infinito. Enquanto as pessoas iam e vinham e eu sentia seus vultos me cercarem, eu estava no infinito.
Uma leve brisa tocou minha face e fez farfalhar as árvores que adornavam a tranquila rua. Despertei de meus devaneios e olhei, finalmente, ao redor. A rua, banhada pela tênue luz dos postes, estava deserta e nada mais se ouvia senão o ruído da viração nas ramagens, sereno, calmo, mil vozes que sussurravam... Que grande paradoxo: Enquanto estavam aqueles seres humanos ali ao meu lado, tocando em mim, esbarrando, falando, minha mente se isolava no espaço da quimera, no infinito do pensamento - tão só quanto eu me via naquele instante, naquela rua deserta. Minha alma talvez quisesse estar sempre só. Sorri. Que singelo e intrigante paradoxo: querer sentir-se sozinho no meio da multidão... Se perceber sozinho quando se está assim realmente. Que espírito mais... Solitário? Que paradoxo!
Subindo a rua vazia de seres-humanos - um cãozinho insistia em me acompanhar - minha face naturalmente se direcionou para algumas parcas estrelas no horizonte.  Ou eram luzes de algumas casinhas distantes? Era luz, em todo o caso.  A brisa, que soprou as nuvens de sonho da minha consciência se converteu em forte sopro, que rapidamente varreu as brumas do firmamento, revelando o esplendor da noite: a Lua, bela, misteriosa e... solitária? Não, não mais: o cãozinho uivou para ela e eu a admirava.
A solidão se foi com as nuvens. Iluminado pela Lua, peguei o vira-latas. O som dos automóveis na avenida próxima se misturava ao som das folhas agitadas pelas lufadas de vento. Sim, o brilho no horizonte era mesmo estrelas.

sábado, 14 de fevereiro de 2015

Antes da Chuva

Mire o Horizonte minha bela
Já se agita a chama da vela
um Mistério os ares encerra...
o que vem no Horizonte?
Qual segredo se oculta atrás daquele monte?

                             Negras nuvens de Tempestade
                             Frios ares, dolentes como saudade
                             Como uma voz que o silêncio invade...
                             Abraça-me, minha bela amada
                             Pois haverá luta antes da Alvorada..!

Mas como rocha de pedra escura
Será nosso amor nossa casa segura
Nas trevas, será meu farol tua face tão pura
Beije-me meu amor, beije sem demora
Amemo-nos como se fosse eterno o agora!

                              Eu sei e tu o sabes
                              O Amor supera tempestades
                              Ele protege as verdades...
                              E não há verdade como no teu olhar
                              Quando me vejo em teus olhos: assim é Amar.

quarta-feira, 4 de fevereiro de 2015

Crônicas da Casa Vazia

O Inquieto

Eu olhava para o céu quando ela se despediu e desligou o telefone. Já naquele momento parecia que a saudade voltava, como um turbilhão de estrelas que se apoiavam novamente em mim, como se a imensidão do céu fosse uma distancia infinita que me separava do meu amor. O dia todo eu estivera inquieto, ou antes,  angustiado - é, essa seria a palavra correta . Mas isso era natural para mim. Se eu não aprendi ainda a controlar pelo menos eu tinha essa consciência: eu era ansioso, embora naquela noite eu sentisse algo diferente, muito mais intenso, sufocante, como se a simples existência fosse capaz de me levar ás lágrimas. Naquele momento, eu sabia, minha alma racional opugnava novamente com sua principal antagonista: minha alma passional. Tal embate seria tão perene quanto meu próprio existir, e de certa forma eu sei que esse eterno movimento, essa batalha interna, me faz o que sou. Enquanto tais pensamentos impetuosamente varriam meu espírito como vento de tempestade, um brisa levemente fria tocava minha face . A noite estava escura  e um certo saudosismo se apoderou de mim enquanto eu fitava o céu, tão belo, imponente e dessolador como nunca antes houvera, ou como nunca antes eu o tivesse apreciado. Novamente, senti como se lágrimas tentassem brotar de meus olhos, sem motivo, apenas como se tentassem me lembrar que eu estava ali, sozinho e que sempre ali estivera. Inconscientemente eu buscava a lua, mas ela não estava lá. Apenas a brisa me prendia ainda na realidade, e meu turbilhão de sentimentos ainda me fazia existir. Perlustrava calmamente todo o horizonte, a brisa se transformara em vento e meu saudosismo também somente aumentava, como aquela sensação de solidão mesclada com alguma lembrança... Apenas meu corpo estava ali, pois meu espírito já nem mais eu sábia... Somente buscava sentir o que o destino, talvez, tentasse me mostrar. Comecei a caminhar e, passo após passo, mais distante eu parecia estar de tudo, e mais solitário também. O vento que ululava parecia cantar palavras indistintas que revelavam os enigmas da noite, do amor, da vida, trazendo antigos cânticos e nênias que somente os grandes Sábios saberiam interpretar. Mas a inquietude e a angustia ousavam ainda pungir minha alma, como se tudo que eu amasse estivesse prestes a partir. Nesse momento uma única imagem, um unico rosto, tomou conta de meus devaneios e era, talvez o seu olhar o que eu buscava no brilho das estrelas, era a sua face, e não a da lua que eu inquiria no horizonte, era a ausência do calor do seu abraço que fazia gélido o vento, era o seu amor o que eu temia perder... Olhei para meu telefone "precisava ouvir sua voz..." eu havia dito à poucos instantes - que grande mentira! Apenas precisava dizer que a amava, mas isso o vento iria ouvir e nele iria ecoar, como o reverberar de palavras confusas que um dia alguém, talvez, ouvisse, numa noite solitária e fria como aquela... Eu ainda olhava para o telefone, esperando ela me chamar, me segurando para eu não o fazer. Naquele momento, parecia que um turbilhão de estrelas pousara em mim, que o vento me arrastava, que tudo estava distante, menos aquela droga de angustia, de inquietude... Talvez eu apenas precisasse de um abraço. Nesse instante, o toque do telefone interrompeu meus pensamentos.



Questionar

"Apenas a Filosofia liberta."
              Epicuro,  Séc. IX a.C.

A propriedade do Ser Humano conhecer, ou seja, de observar e por meio de seus apanágios intelectivos, concluir algo e encadear tal aprendizado com outro a fim de evoluir o próprio pensamento, representa para os espíritos curiosos e inquietos um campo de análise interessantíssimo e embevecedor, deslumbrante. Assim, nada há de mais instigador do que a busca pelo conhecimento do que é o Homem. Enquanto certas especialidades científicas e artísticas exigem que apenas parco número de homens as apreciem e questionem, o questinamento do que é o Homem e quais são seus limites, seu comportamento, seu início, representa uma inquietude inerente a todos os povos, em todas as épocas, tão acessível quanto impossivel de se chegar a um fim. Mas não quer dizer que seja uma busca vazia:  é preciso ter um espírito inquieto para questionar, um espírito nobre e ao mesmo tempo humilde para contemplar tal grandeza pelas artes, pela literatura e principalmente pela própria Filosofia.