domingo, 2 de fevereiro de 2020

Reflexões filosóficas

Caráter

Atualmente, é espantosa a tendência humana para vulgaridade. Odiamos o próximo como regra, e, amiúde, tratamos as pessoas que amamos com um desprezo digno de nossos piores inimigos - talvez para compensar a distância deles... É como se a proximidade e a intimidade fossem um salvo-conduto para a imposição de sofrimentos. Não se exita - após as discordâncias mais sem importância - em buscar no fundo da alma e de uma maneira quase  inconsciente aquilo que a pessoa alvo mais odeia ou aquilo que mais a magoaria, para, após, se proceder à prática sutil, velada... sem se importar com consequências e sem lembrar que o alvo pode ser uma das únicas pessoas do mundo que te ama de verdade. Não importa! Nada importa, senão satisfazer o desejo egoístico de vingança! Assim é o vulgar amor dos tempos modernos.
Sou uma das vítimas disso.
Sempre possuí, de forma quase inata, uma verve - uma inspiração, pode-se dizer -  de buscar e praticar aquilo que denomino de amor transcendental e, de forma previsível, minhas perquirições no mundo real me levaram ao nada... (talvez a isso eu deva meus dotes poéticos, sendo meus escritos pautados na idealização de uma amor cândido, perene, intangível...).
De todo modo, ainda acredito no amor. Não posso dizer que ele não existe - isso seria contradizer minha própria inspiração e índole no mundo real. Mas os que são mais idealistas nesse sentido são os que mais sofrem...
Observo, não sem íntimo espanto, a volatilidade das relações humanas - pautadas mormente em um tácito jogo de interesses obscuros em que as aspirações mais mesquinhas definem o andamento das coisas. "O que você tem para oferecer?" é a questão, e não mais "O que você é?". "Você me ama?" é a preocupação, ao invés de "Como eu estou amando?". Essa é a normalidade, a qual se desvela corriqueira e banal.
Ora, "amor verdadeiro" não se confunde com "amor incondicional". O verdadeiro é justamente aquele que não foi maculado por uma infidelidade, por uma vingança, pelo desprezo. Metafísico, nesse sentido.
É, de certo modo, triste - e assustador  - o comportamento mediano atual: aceita-se tudo do ponto de vista (i) moral, mas não se aceita os defeitos mais inofensivos; aceita-se tudo o que você quer, mas nada que o outro quer; do amor para o ódio, e do ódio para o amor sem qualquer reflexão - bestialidade digna das feras. Quanto mais você faz, mais tem de fazer, senão jamais será bom o suficiente.
Assim como coragem é, do ponto de viés aristotélico, fazer, na solidão, aquilo que você faria perante uma multidão, o caráter segue lógica semelhante: o caráter virtuoso requer a prática constante do sacrifício e da fidelidade, no âmbito solitário das ideias. Trata-se do principal requisito para o amor verdadeiro.
É quando reflito nessas coisas que percebo o quanto sou solitário...

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sábado, 1 de fevereiro de 2020

Reflexões filosóficas

 

Decepção...

Infelizmente, tenho o péssimo hábito - ou, mais propriamente, característica psicológica - de projetar nas pessoas de meu trato pessoal expectativas diretamente proporcionais ao meu nível de moralidade. Dizendo de outro modo, talvez eu  seja uma pessoa demasiadamente ingênua: tenho a tendência de acreditar que não farão comigo aquilo que eu jamais faria com outrem.
Nesse viés sou profundamente propenso a frustrações e decepções... Se por um lado, meu caráter me impele a pensamentos de justiça e profunda fidelidade à convicções - e pessoas -, nem sempre estou preparado para enfrentar os corriqueiros golpes inerentes a forma mesquinha e egoísta de agir e pensar dessas outras pessoas - as quais amiúde portam nada mais do que a moralidade ordinária, comum à maioria...
Não sei se esse meu aspecto idealista é uma virtude ou uma maldição - mas é inegável a propriedade que esse estranho apanágio tem de me afastar das outras pessoas: enquanto minha conduta na vida real pauta-se em meu idealismo - composto de profundos sentimentos de verdade e sinceridade - por vezes sou golpeado e digamos, magoado, com o egoísmo alheio (amiúde, dos mais próximas...), o que não contribui para minorar minha misantropia, tornando-me cada vez mais arredio.
Essa experiência transcendental - leia-se, real - envolvendo amor e lealdade - é, obviamente, uma utopia... entretanto, a busca é perene, e eu ainda espero o melhor das pessoas (essa, minha principal fonte de tristeza...). 
Certas vivências em relações pessoais me incomodam e entristecem, sobretudo quando envolvem provocações e, posso dizer, "ataques" dos tipos os quais eu jamais faria. Meu caráter me impede de aceitar e inclusive, conviver, com qualquer suspeita de infidelidade, mesmo que uma infidelidade praticada no âmbito das ideias... Atônito e decepcionado,  resguardo-me no silêncio. Essa sempre foi minha única reação. 
A cerne destas minhas desventuras não remontam nas ações das pessoas tomadas isoladamente (ad exemplum, minha suposta nam...) mas sua intenção: e eu sei quando querem me provocar. O mais que conseguem é decepção, e a perene quebra de confiança, a qual jamais será restaurada. E, enquanto isso, eu continuo em meu quase doentio heroísmo, almejando sempre buscar o melhor para as pessoas que amo, mesmo que elas não tenham a sensibilidade necessária para atribuir a isso o valor necessário. 
Essa é a minha solidão: baseada em um  deslocamento entre a expectativa (baseada na virtude) e a realidade. Uma alma deslocada em relação a um  mundo egoísta, coletivista e baseado na satisfação imediata de desejos pessoais, suplantando toda e qualquer objetivo metafísico. 
Espero um dia entender o porquê desse suposto talento de entender o mundo e de ler as pessoas, sendo que, ao mesmo tempo, não consigo  participar de suas comuns aspirações. Mas, enquanto isso, sou apenas mais um decepcionado, buscando alguma verdade e algum resquício de sentimento verdadeiro.