Reflexões filosóficas
Caráter
Atualmente, é espantosa a tendência humana para vulgaridade. Odiamos o próximo como regra, e, amiúde, tratamos as pessoas que amamos com um desprezo digno de nossos piores inimigos - talvez para compensar a distância deles... É como se a proximidade e a intimidade fossem um salvo-conduto para a imposição de sofrimentos. Não se exita - após as discordâncias mais sem importância - em buscar no fundo da alma e de uma maneira quase inconsciente aquilo que a pessoa alvo mais odeia ou aquilo que mais a magoaria, para, após, se proceder à prática sutil, velada... sem se importar com consequências e sem lembrar que o alvo pode ser uma das únicas pessoas do mundo que te ama de verdade. Não importa! Nada importa, senão satisfazer o desejo egoístico de vingança! Assim é o vulgar amor dos tempos modernos.Sou uma das vítimas disso.
Sempre possuí, de forma quase inata, uma verve - uma inspiração, pode-se dizer - de buscar e praticar aquilo que denomino de amor transcendental e, de forma previsível, minhas perquirições no mundo real me levaram ao nada... (talvez a isso eu deva meus dotes poéticos, sendo meus escritos pautados na idealização de uma amor cândido, perene, intangível...).
De todo modo, ainda acredito no amor. Não posso dizer que ele não existe - isso seria contradizer minha própria inspiração e índole no mundo real. Mas os que são mais idealistas nesse sentido são os que mais sofrem...
Observo, não sem íntimo espanto, a volatilidade das relações humanas - pautadas mormente em um tácito jogo de interesses obscuros em que as aspirações mais mesquinhas definem o andamento das coisas. "O que você tem para oferecer?" é a questão, e não mais "O que você é?". "Você me ama?" é a preocupação, ao invés de "Como eu estou amando?". Essa é a normalidade, a qual se desvela corriqueira e banal.
Ora, "amor verdadeiro" não se confunde com "amor incondicional". O verdadeiro é justamente aquele que não foi maculado por uma infidelidade, por uma vingança, pelo desprezo. Metafísico, nesse sentido.
É, de certo modo, triste - e assustador - o comportamento mediano atual: aceita-se tudo do ponto de vista (i) moral, mas não se aceita os defeitos mais inofensivos; aceita-se tudo o que você quer, mas nada que o outro quer; do amor para o ódio, e do ódio para o amor sem qualquer reflexão - bestialidade digna das feras. Quanto mais você faz, mais tem de fazer, senão jamais será bom o suficiente.
Assim como coragem é, do ponto de viés aristotélico, fazer, na solidão, aquilo que você faria perante uma multidão, o caráter segue lógica semelhante: o caráter virtuoso requer a prática constante do sacrifício e da fidelidade, no âmbito solitário das ideias. Trata-se do principal requisito para o amor verdadeiro.
É quando reflito nessas coisas que percebo o quanto sou solitário...
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