sexta-feira, 31 de janeiro de 2020

Controle

Desejos viciados
Atirados no abismo dos olhares perdidos
Na multidão - nós estamos mais sozinhos

Sua face aprisionada em uma tela de TV
Já sabemos quem é você...
Nós já sabemos o que é você

O sistema não barganha com escravos
O sistema não barganha com escravos

Mentiras cuspidas
Vermes atirados ao chão
Na fila da morte - você é a solidão

Força invisível - intimidação ostensiva
Já sabemos quem é você...
Você não é mais você

O sistema não barganha com escravos
O sistema não barganha com escravos

Doenças espalhadas
Pelos que vendem a cura
A caneta que apela é a faca que te fura!

Biometria infalível
Teia, a vida, a prisão!
Já sabemos quem é você...
Você não é mais você

O sistema não barganha com escravos!
O sistema não barganha com escravos!
O sistema não barganha!
O sistema não barganha!

quinta-feira, 30 de janeiro de 2020

 Aforismos filosóficos...

Gosto de pessoas que me contestem, porque elas me dão a oportunidade de provar que estão erradas.

sexta-feira, 3 de janeiro de 2020


 Crônicas da Casa Vazia


O abismo do tempo

(Parte 1)

Como devoto da música dos ventos das derradeiras tardes de inverno, o velho capataz contemplava, no limiar do bosque, o ulular inconstante decorrente da pertinaz avença entre a viração e as folhas das árvores altivas. Dentre o lusco-fusco daquele final de tarde, não distinguiam-se  as longas barbas daquele vetusto trabalhador campesino com os densos liquens que encobriam a relva. Os torpes raios de sol bruxuleavam languidamente, ensaiando um adeus e convidando a escuridão que se aproximava. Podia imaginar, o campesino, que o badalar do sino do campanário da antiga igreja do longínquo vilarejo marcavam a hora do Angelus, mas as horas já não importavam naqueles rincões.
           Um suspiro e um passar de olhos a volta selaram o instante de meditação: ainda havia trabalho a fazer. Em um ímpeto o trabalhador recolheu restos de madeiras secas que o circundava, ajeitando-as em seu saco de sarapilheira, não antes sem notar o curioso aspecto das densas e obscuras nuvens que se aproximavam no, até então, plácido horizonte. Se a experiência já o alijou de todos os medos, também o ensinou a respeitar um sinal da natureza - esta, capaz das maiores sutilezas e canduras,  mas também das mais titânicas assombrações...