Motivação e Disciplina
A disciplina vem antes da motivação. No tempo presente, é comum que as pessoas busquem, cada vez mais, por meios de se manterem de algum modo motivadas para suas atividades e aspirações corriqueiras. Palestras, ditos espirituosos, coaches, autoajuda rasteira - são amiúde utilizados como meios de se conseguir alguma coragem ou ímpeto para arrostar a realidade. No entanto, nada é mais vão do que a busca incessante pela mera motivação.
A motivação hodierna esconde em sua cerne originária aquele vácuo que fundamenta a busca por sentido: enquanto cada vez mais as angustias modernas nos fazem questionar velhos baluartes da vida (v. g. princípios morais e religiosos), mais a falta de sentido se releva - um incômodo perene cujo entretenimento e atividade rotineiras tentam ocultar. E é nesse contexto líquido e raso que o desejo por instigação para as atividades estudantis, profissionais e sociais toma cada vez mais a energia do homem. E se aquilo que é reles basta para nos motivar, pouco basta para nos afligir: a força de caráter e de empenho estão cada vez mais enfraquecidos.
Sob este viés, é a disciplina o terreno plácido e fértil onde se deve depositar as aspirações e esperanças: sob os auspícios da ordem, método e constância, nossa alma encontra um caminho seguro para a conquista de objetivos na complexa vivência moderna. Enquanto a motivação é fulgurante e necessita de dispêndio constante de energia, sendo frágil a ponto de enfraquecer-se sob a mais leve crítica ou sob o mais incidental fracasso, a disciplina é caminho perene, onde a resiliência encontra o norte correto a partir de fundamentos seguros. Pra parafrasear o Livro dos Livros, o homem disciplinado constrói sua morada na rocha.
No caos da modernidade, é papel do homem desperto refletir e almejar a ordem, valendo-se da disciplina como ferramenta de construção de sua consciência e aperfeiçoamento de sua personalidade.
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