segunda-feira, 13 de dezembro de 2021

 CONTROLE

Fizeram do medo sua referência
As mazelas, sua maledicência
Um povo abandonado à própria sorte
Espera o chamado da morte!

Os grilhões do estado
Ocultam a verdade, no cadafalso
Você já é incapaz de perceber:
Sua liberdade, foi a primeira a morrer!

Hipnotizados pelo glamour da decadência
Rostos presos, voltados para o chão
Mas não veem a vereda em que caminham
Nada mais sentem, em sua bruma de ilusão

Reescrevem suas verdades
Traçam o destino da humanidade!
Enquanto meros títeres de carne
Entretêm-se com perversidades!

O controle central
Faz o bem parecer o mal
A vida ou a morte
Não é uma escolha moral!
O controle central
Faz o bem parecer o mal
A vida ou a morte
Não é uma escolha moral!


sexta-feira, 8 de outubro de 2021

O Corvo Branco

Ipê,
Pinheiro, Angico
Ingá, Araçá
O corvo branco se escondeu por lá
Ipê,
Pinheiro, Angico
Ingá, Araçá
O corvo branco já passou por lá

Meus pensamentos tortuosos
Se confundem com a estrada,
O vento congela os ossos
Reduzindo ao pó, me reduzindo ao nada

Eu sonhava com ela
Aquela noite, aquele instante
A solidão - do amor à guerra
Quando o ser alado, ilumina o horizonte


Corvo branco,
Seja meu guia nessa estrada escura
Pálido voador da noite
Prateado pela lua!
És o fantasma,
De tantos amores esquecidos,
Guarda os viajantes,
Nas curvas, nos perigos!


Espectro da noite
Tinhas asas de um anjo,
Tinha penas cor de neve,
E nas rochas, seu descanso

Vigilante das madrugadas,
Vigia os que sobem as montanhas
Traz nas tuas garras,
As pratas das campanhas


Corvo branco,
Seja meu guia nessa estrada escura
Pálido voador da noite
Prateado pela lua!
És o fantasma,
De tantos amores esquecidos,
Guarda os viajantes,
Nas curvas, nos perigos!


Trabalhadores caíram
Seu trabalho, sonhos e guerras
Teus olhos viram,
Cada golpe nessas pedras

Cavaram a estrada,
E com ela, tantas sepulturas
O corvo os assombrava,
Quando olhavam pras alturas!


Corvo branco,
Seja meu guia nessa estrada escura
Pálido voador da noite
Prateado pela lua
És o fantasma,
De tantos amores esquecidos,
Guarda os viajantes,
Nas curvas, nos perigos!


Ipê,
Pinheiro, Angico
Ingá, Araçá
O corvo branco se escondeu lá
Ipê,
Pinheiro, Angico
Ingá, Araçá
O corvo branco já passou por lá!

 A. K. M. J

Urubici, 09/10/2021.

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sexta-feira, 1 de outubro de 2021

 Do Espírito da Guerra


Arcano espírito da guerra
Vulto ignoto, que passeia pelas eras
Escreveste com sangue as linhas da história
O brandir da espada, é o eco de tua glória!

Resoluto, rasteja as correntes do tempo
Teu sopro, o hálito quente do vento
És a pólvora que queima,
As nações, à morte condena!

Cavaleiro do fim, antítese da paz
Teu destino, na inconstância se faz
És o pai da do tempo, general de falanges
Verdugo dos fracos, ídolo dos grandes!

                                                                                   

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sábado, 10 de abril de 2021

 

O Sono da Beleza na Modernidade

 

A brutalidade dos tempos modernos, evidenciada pela complexidade – quem diria! – de sobrevivência material e social, impele o homem a um espírito competitivo, mesquinho e paupérrimo, cujas manifestações podem chegar ao nível do grotesco. Dentre elas, a que mais desola um espírito alheio à cegueira da existência contemporânea é a completa ausência de preocupação estética – por vezes agravada por acentuado e inerente mau gosto – nas obras mais ordinárias das ocupações humanas. Onde outrora as mãos e alma labutavam com toda o esmero do escopo transcendental, hodiernamente vislumbra-se o retrato estéril do niilismo, do utilitarismo que mal serve a seu suposto propósito de “apenas servir”.

Não é sem certa melancolia que, ao passear pelas vias de minha urbe, arrosto miríade de faces impassíveis, inexpugnáveis, acotovelando-se pelas calçadas, consubstanciando desordenada massa de seres viventes parasitários de uma ordem caótica, baseada em satisfação imediata de necessidades animalescas ou imaginárias: olhos semidesfalecidos para a realidade atem-se naquilo que é mais bestial e trivial, como mariposas que impelem-se ao calor mortal da luz noturna. Cimentam todo o espaço do chão de seus lares, matam seus jardins, como que para obstar o contato com a terra, com a manifestação mais imediata do natural, na ânsia inconsciente de atrasar a amálgama com o pó, seu destino inevitável, seu fim material último. Paradoxalmente, encerram-se em grandes caixotes de concreto de aparência esmaecida, como jazigos modernos, enquanto suas almas encerram-se, por sua vez, na penumbra do solitário coletivismo. Consomem e contentam-se com obras de entretenimento medíocres, hipnotizados por esboços de experiências rasteiras.

A apreciação da beleza, seja das obras naturais, seja de enlevadas obras humanas – todas centelhas inspiracionais da mesma Fonte – foi relegada a atividade insignificante, excêntrica, mero atavio de pseudointelectualidade, distante do homem prosaico. Tal deturpação, no entanto, representa causa e, ao mesmo tempo, sintoma (uma retroalimentação trágica...) do distanciamento do transcendental, funesto apanágio hodierno, que cada vez mais sufoca a humanidade. Se o homem é incapaz de apreciar - com autoconsciência - a beleza, é incapaz de transcender-se e de entender a dor do próximo e o amor para com ele, multiplicando o crime, a injustiça e as mazelas contemporâneas.

O senso estético – um dos liames espirituais (talvez o mais relevante) que propicia ao homem galgar seus limites materiais na busca individual pelo conhecimento e consciência da eternidade - dorme o sono mais profundo da noite mais longa desde a criação. Despertar é uma questão de responsabilidade do indivíduo: livrar-se das distrações, retornar a si e reconhecer que a beleza da arte e a beleza da natureza (distinguíveis no luar, nas estrelas, no frescor da planta cultivada, na literatura, nas obras clássicas) são vitros para a transcendentalidade - o fim último da existência.